O PRIMO BASÍLIO – JOSÉ MARIA EÇA DE QUEIRÓS
por Rosângela Carvalho
Narra a história de adultério cometido por Luísa - esposa de Jorge, um engenheiro de minas, que sempre precisa viajar a trabalho - com um primo que a deixou , sete anos atrás, ao perder tudo e ser obrigado a ir para o Brasil tentar a sorte e de lá mesmo rompe o namoro com a prima, através de uma carta. Após esses sete anos, Basílio de Brito retorna para Portugal, como negociante de madeira, onde ficará um tempo e como não havia muito o que fazer, resolve procurar a prima e utilizar tudo que suas viagens à Paris lhe ensinou, de forma bem cafajéstica, para conquistá-la. Entre encontros e mais encontros, há a malícia dos outros personagens que a tudo assistem, sendo que Juliana , sua criada revoltada, irá furtar três cartas dos amantes ( duas de Basílio e uma dela) para chantageá-los. Começa então uma outra fase da narrativa, já que a primeira mostra o adultério em si, nesta mostrará detalhes de conflitos entre Luisa e Juliana que chegam a trocar de posição social, de papéis, culminando com a morte das duas.
PALAVRAS CHAVES: ADULTÉRIO
REALISMO
O romance apesar de ser uma tipificação literária do Romantismo, é um recurso utilizado por Eça de Queirós para narrar; melhor, fotografar de forma notável uma história sobre adultério numa classe média lisboense, utilizando a ferramenta realística dos detalhes minuciosos que consegue fazer com que personagens planas possam ser nitidamente identificadas dentro deste contexto sócio-econômico.
Eça se dedica ao realismo mesmo na época do Grupo do Cenáculo, onde apresenta a 4ª conferência com o assunto: O Realismo como nova expressão da arte.
Apesar de dar maior valor ao enredo que é o adultério, Eça constrói personagens adaptados para o realismo colocando em cada uma as peculiaridades que denotam verdadeiras caricaturas do pequeno burguês lisboense. Ele constrói personagens de fora para dentro, que também é uma característica do realismo, ou seja, cada personagem é conhecida por suas próprias falas e comportamento, por suas opiniões e lugares onde vivem. O autor para descrever Basílio recorre até dos pensamentos do personagem.
Em cada capítulo há sempre cenas e falas que caracterizam a época com uma perfeição que comprova o perfeccionismo do autor em reescrever os capítulos mais de cem vezes. Há descrições que nos forçam a reler várias vezes, tamanha é a autenticidade dos objetos e pessoas e lugares descritos. Alguns críticos até ressaltam tais passagens.
O autor onisciente, trabalha com a terceira pessoa, em um discurso indireto sem pronunciar julgamentos, o que afinal nem se faz necessário, já que se consegue vislumbrar nos detalhes toda forma de crítica aos opositores do Realismo. Temos em cada personagem a crítica viva de tudo que há na sociedade burguesa e até na sociedade descrita dos empregados.
O mais interessante é que Eça conseguiu delatar toda a realidade menos em fatos, mais em personagens e seus comportamentos. É precioso demais a construção plana dos personagens sem aprofundamento psicológico, característica do Realismo, e mesmo assim despertar um interesse grande em conhecer todo o desenvolvimento da obra. Não há rede psicológica, ao contrário, há diálogos fúteis e medíocres que nos arrastam pela novidade em mostrar a realidade limpa, sem máscaras, expondo desde a rejeição ao romantismo aos assuntos como adultério, característica
também do Realismo.
A superficialidade dos personagens e o tema adultério foram peças fundamentais para incitar ao público da época que já andava enfadado pela subjetividade pegajosa do Romantismo, sem contar que a Europa já estava bem além de Portugal em novidades e novos pensamentos, resultado da Revolução Industrial que gerou um mundo com novas correntes a partir do Positivismo de Auguste Comte.
A era do objetivismo e comprovações científicas está evidente no Primo Basílio, através de Jorge, marido de Luisa, que era a favor da ciência, um engenheiro de minas.
Centrando-nos no enredo temos um romance entre Luisa e o Primo Basílio em Portugal, que acaba quando os país de Basílio perdem tudo e ele é forçado a ir para o Brasil, de lá escreve uma carta terminando tudo com Luísa.
Luisa fica triste, mas nada a impede de pouco depois se casar com Jorge. Este, é o protótipo do esposo perfeito, ou seja, sempre ausente, deixa a esposa em casa por vários períodos de tempo, viajando a trabalho, que mais tarde, é revelado ser também para seus adultérios. Revelação essa, surpreendente e muito bem elaborada, em um capítulo em que o amigo de Jorge, o senhor Sebastião, deixa Luisa ler uma carta em que devassamente Jorge relata seus casos com detalhes fortes para a época, um segredo que morre com Sebastião e Luisa.
O autor logo no início do romance com o propósito de apresentar os personagens secundários, relata as reuniões que sempre aconteciam na casa de Jorge aos domingos.
Após sete anos de separação, Basílio volta para Portugal bem sucedido, com negócios no ramo de madeira, e juntamente com um amigo, fica no hotel Central alguns dias, dias estes que se transformam em um grande dilema para Luisa.
Basílio sente vontade de ir ver a prima e ao visitá-la, fica feliz pela ausência do marido, detalhe que o autor deixa claro o caráter do primo. Neste capítulo e alguns outros, todo o comportamento de Basílio é de um homem prepotente e sedutor, além de cafajeste. Critica a prima o tempo todo, ao mesmo tempo, em que tenta conquistá-la com sua astúcia. Fala o tempo todo de Paris, onde passou um bom tempo. Tudo em Paris é melhor. Além de realçar o quanto o adultério é “ um dever aristocrático” em Paris. Chega a influenciar a prima em seu modo de vestir. Diante de tantos encontros e seduções, Luisa que já era contaminada pelas histórias dos folhetins românticos que passava manhãs a lê-los se sente cada vez mais tentada a ser como todas. Até sua cozinheira Joana tinha seu homem às escondidas. Recebia influência também de sua amiga do tempo de solteira, Leopoldina que apesar de casada com João Noronha, dormia em camas separadas e tinha vários amantes sem nada encobrir , nem mesmo do marido que a tratava como um animal. Leopoldina era uma amiga íntima que Jorge proibira de recebê-la na casa deles, pois todo mundo falava dela, que cheirava a feno e tabaco e tinha a alcunha de pão-e-queijo. Tinha 27 anos era uma mulher tão linda e bem desenhada que “quase tinha atração por ela , parecia a estátua de Vênus”, dizia Luisa. Leopoldina descrevia seus encontros em detalhes que fervilhavam na mente de Luisa, trocava muito de amantes, mas em um capítulo, nestas confidências com Luisa, desabafa que de todos os seus casos nunca haverá tal igual ou melhor do que foi com Joaninha, os tais sentimentos; veja aqui, o leitor que foi uma alusão ao homossexualismo, que na época foi de muita coragem do autor expor tal assunto. Outro assunto em questão que foi forte para a época o incesto, afinal eram primos.
Eça faz questão de retratar várias classes sociais com o mesmo comportamento adúltero. Tudo fica claro pela construção do superficial, seja nos personagens, seja nas situações ou lugares.
Mas, sigamos adiante, já que Basílio consegue atrair a prima aos poucos, chegando a arrumar um lugar para os encontros que se tornam diários, causando muitas fofocas pelas ruas, nestes dias de ausência de Jorge, chegando aos ouvidos de Sebastião que tenta falar com Luisa e não consegue. Procura por Ernestino Ledesma, primo de Jorge, um funcionário da alfândega, insensível ao caso de Luisa, vivia absorto em seu passatempo que era o teatro, e que em todo o enredo se prepara para apresentar a peça “ Honra e Paixão” , recurso metalingüístico utilizado pela autor, por se tratar de adultério, onde Ledesma chega um dia a perguntar para Jorge sobre como escrever o desfecho e este diz que mataria a esposa sem dúvida, pois era objetivo. Ledesma nada consegue além de receber de Luisa menosprezo, pois estava hipnotizada pelas falas de Basílio e passou a desprezar todos os amigos. Até mesmo D. Felicidade, amiga da família fervorosa religiosa, louca pelo Conselheiro Acácio, também ignorado, era apelidado Del Rey, amigo de jorge e padrinho de casamento, tinha seus títulos honoríficos pelos escritos científicos que fazia. Até um guia da cidade escreveu. Sabia tudo que se passava até na sociedade imperial. Respeitado e solteiro, tinha uma amante escondida em sua casa, que se passsava por sua criada.
Luisa, envolvida pelos folhetins cria inúmeras sensações através da descrição do autor, do local dos deuses que Basílio teria reservado para os dois. Mas ao chegar no primeiro dia ao local, um susto engasgado, tudo era exatamente o oposto de tudo que sonhava. Mais uma vez Eça descreve o local com tanta minucia que até o choro de uma criança chega a encomodar os ouvidos do leitor. Era um lugar além de pobre, sujo e usado por muitas pessoas. Mas os beijos de Basílio e suas falações sedutoras envolvem Luisa que se deixa levar mesmo que nada pudesse ter a beleza de seus devaneios. Com o tempo esses encontros tornam-se rotina e há vários desencontros, porém o don juan, consegue tudo superar e trazer de volta sempre Luisa para seus braços.
Sebastião tenta mais uma vez alertar Luisa para o que as pessoas estão a falar dela. Sem sucesso, Luisa consegue enganar Sebastião dizendo que estava indo visitar D. Felicidade que havia sofrido uma queda e estava de repouso.
Basílio continuava a exaltar Paris e até dizia “ Paris tudo melhor que Portugal, Brasil tudo pior que Portugal”, há muitos preconceitos ao Brasil no romance de Eça de Queirós. Mais evidente em Luisa quando utiliza as expressões: “ ar nordeste” para mostrar que não gostava de Julião Zuzarte, cirurgião amargo com silêncios hostis. Ou ao referir aos empregados de “ negrinhos”. Já o Basílio diz que “ a Bahia não o vulgarizara” e ao responder Luisa sobre não ter casado - “como poderia casar no Brasil, com uma mulata?”
Existe no romance uma personagem muito bem elaborada pelo autor, pela escravidão, pela classe explorada, uma personagem única que o autor a faz esférica. Uma personagem que faz sobressair o socialismo científico, uma personagem que impregna a mente do leitor com suas formas e seus venenos expelidos em revolta total contra todas as madames, a classe exploradora. O autor mais uma vez descreve através do pensamento de Juliana cada milímetro do espaço de onde ela vive ao terminar todo o serviço, o quase teto da casa, úmido, mal cheiroso, incapaz de se dizer que há vida humana ali, e isto porque a empregada já havia contraído uma doença antes do casamento de Jorge ao cuidar da tia dele, Virgínia Lemos. Juliana se dedicou a cuidá-la até adoecer, carregava um aneurisma. Achou que iria receber em dinheiro a dedicação, mas só conseguiu um emprego vitalício na casa de Luisa e Jorge.
Juliana Conceiro Tavira, única personagem que falou seu nome por completo- não o autor e que dizia “ vinte anos que mudava de amos e não mudava de sorte”. Juliana é a personagem que irá tentar chantagear os amantes com o furto das três cartas, é a personagem que irá enriquecer a obra quando os encontros dos amantes cessam , afinal, o cafajeste foge para o Brasil quando Luisa fala que Juliana está com as cartas e a chantageia. Juliana vai a enculcadeira-Tia Vitória uma mulher que lhe dirige as ações para arrancar dinheiro dos amantes. Quando manda Juliana buscar o dinheiro com Basílio e este já havia deixado Portugal, um ódio mortal arrebanha Juliana que chega em casa aos gritos com Luisa. Desde esta cena, Juliana começa a explorar Luisa, que sem saber mais o que fazer, pois tentou até se prostituir com um homem que Leopoldina disse fazer qualquer coisa por ela, mas em vão, fez foi bater em Castro. Luiza chegou também a escrever para Basilio pedindo dinheiro, mas não obteve notícia alguma, só silêncio.
Aos poucos Juliana foi exigindo tudo do bom e do melhor, já que Luisa não dispunha do dinheiro, tudo que Luisa usava ela queria prá si, era só jogar uma indireta e lá estava no quarto dela o que queria. Era tanto a raiva de Juliana que parava até de trabalhar, deixava tudo sujo e saia, Joana, a outra empregada nada entendia, pois passou até a fazer serviços que eram de Juliana.
Jorge volta para casa e acha tudo muito estranho. Luisa vivia defendendo os maus serviços de Juliana e acobertava suas saídas. Luiza passa a fazer serviços de Juliana, como engomar, varrer, limpar e ficou debilitada, mas sem deixar de fazer os serviços escondido. Algumas vezes foi pega fazendo estes serviços mas dava explicações que deixavam Jorge cada vez mais sem entender nada. Jorge passou a debochar, a fazer cinismo com D Juliana que não podia ser mandada embora. Tudo chegou num ponto inaceitável, que Luisa teve de falar com Juliana que Jorge iria despedi-la, o que deixou Juliana com muito medo de perder emprego. Então ela volta a agir como empregada e Luisa tem uma fase menos pesada. Mas Luisa ainda assim procura Sebastião e lhe relata tudo que vem padecendo. Foi o melhor que fez. O autor descreve Sebastião cuidando de detalhes para salvar Luisa das mãos de Juliana. Ele contrata um oficial, através de um amigo da guarda, e vai para casa de Luisa, onde não teria ninguém , pois também arrumou entradas para a peça Fausto onde todos estariam: Jorge, Luisa, Conselheiro, D. Felicidade e a família real nos camarotes. Chega na casa e pede as cartas de volta caso não as devolva lhe entregaria ao policial que estava na sala. Juliana se enfurece tanto que um ataque lhe joga ao chão sem vida. Sebastião fica estático sem saber o que fazer. Com muito custo resolve buscar Ernestino. Este frio como era, só fez Sebastião ajudá-lo a levar o cadáver ao sótão.
Um dia, após alguns de paz com a morte de Juliana, Luisa ainda estava com a saúde debilitada, estava acamada, chega uma carta, Jorge não se contém e a abre e lê palavras de um amante. Jorge se desespera, conversa com Sebastião que nada fala, mesmo sabendo de tudo. Jorge passa a entender tudo que se passava, entende que Juliana sabia de tudo e chantageava Luisa.
Jorge tomado pelo desespero tenta falar com Luisa que sabe de tudo, mas não consegue, vê Luisa indo embora, com crises e mais crises, dois médicos que trocam informações cientificas, mas que sabem não ter mais jeito. Luisa morre. Morre pela chantagem de Juliana. Não pelo Adultério, tema central de toda obra. O personagem principal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: O romance de Eça de Queirós é uma obra perfeita para delatar todos os pontos frágeis e desnudos da sociedade burguesa lisboense. O autor consegue em descrições fotográficas criar cada personagem de fora para dentro, consegue colocar tipos realistas, consegue descrever de forma tão minuciosa que parece nos colocar dentro da história também. Sua tese parece ser contra o casamento, uma fórmula administrativa, que vive de aparências, já que o adultério aparece em todas as camadas da sociedade.
Parece que a preocupação do autor foi retratar fielmente a época e o novo movimento literário que se insurgia rupturando com o romantismo. O autor faz questão em demonstrar detalhes que mostram as características evidentes do Realismo. São claras e perfeitas, apesar do escritor brasileiro, Machado de Assis dizer que a única conclusão que chegou com esse romance é de que: “ Se quisermos ser adúlteros escolhamos bem os criados”. Uma forma cruel e pesada de avaliar uma obra que parece ter dado muito trabalho ao autor em pesquisa e elaboração de personagens. A obra mesmo que dizem sem tese, é valiosa pelas descrições, pela forma nova de retratar o ser humano com o que ele é e faz sem rebuscamentos, atenuantes. A maneira como o Eça descarta o romantismo e traz suas personagens fiéis ao Realismo é divina. A personagem Juliana é única que destoa dos outros, afinal é ela que carrega o romance para os capítulos finais. Machado faz comentários expressivos da obra de Eça, comentários maravilhosos, mas não consegue se livrar das irradiações do Romantismo e não consegue ver as belezas e sujeiras de um ser humano descrito em sua essência real sem pintura alguma. Nada melhor que ver a realidade. Veja por Luisa ao se descuidar da realidade e se vestir dos folhetins foi dar de cara com a realidade e se machucou. A vida nos dá o real mas nós teimamos em mascará-la, daí tantas decepções. Eça é perfeito com seu Realismo, aliás como diz Saraiva “ Eça é menos político, menos filósofo, mais artista”. O artista consegue denunciar o real de forma sucinta sem precisar fantasiar. Todos os personagens são colocados no lugar certo com as falas devidas, mostrando as figuras que existem em uma sociedade, dando aos principais e secundários a real existência de cada um, sem deixar nenhum cair na indiferença. É maravilhoso o modo como descreve uma criada revoltada, através dela Eça nos mostra como vive toda uma parte da humanidade. E recorrendo das descrições, dias destes ao ver sentados em uma mesa almoçando alguns empregados do próprio restaurante, em um horário que com certeza não mais havia comida decente, enxerguei o mundo de Juliana em pleno século XXI. A realidade de Eça é tão cruciante e nítida que podemos enxergar os males do socialismo científico até os nossos dias. E quantas pessoas hoje, são como Luisa, Basílio, Acácio, Felicidade, Leopoldina. E mais ainda, o adultério é o prato do momento, quem pode me citar um casamento sem adultério, e pior sem filhos com outros. O que era o começo, aqui está totalmente tomado. E certifica-se que no mundo tudo troca de nomes, mas a humanidade, as pessoas continuam sendo as mesmas, aquelas que fazem divisão, que criam situações que separam classes, que criam as mesmas circunstâncias, que fofocam, que possuem suas opiniões.
Eça faz do adultério uma parte da obra e depois a outra parte retrata o comportamento expressivo, maravilhoso de classes. A relação Juliana e Luisa é tão rica quanto foi a de Luisa com Basílio, o que muda são os interesses. Basílio queria Luisa como objeto de satisfação sexual; Juliana queria tudo que Luisa possuia de material. Luisa queria brincar de ser dama parisiense que trai marido sem ter problemas. Luisa queria apenas voltar a viver com Jorge como se nada tivesse acontecido. Basílio nada era para ela, afinal quando a deixou a sete anos atrás, Luisa tratou logo de esquecê-lo, casando-se com Jorge. Quando ele retornou, viu apenas em Basílio o espelho da sociedade de Paris e a oportunidade de viver seus devaneios. Machado acha um absurdo esse adultério sem paixão. Imagina se Machado conhecesse o termo Ficar de nossa época. Ficaria horrorizado. Mas voltando à obra, o fato de colocar uma peça que também fala em adultério – Fausto - foi também uma arte a mais no desenvolvimento da história. Eça consegue descrever ambientes fora e dentro dos lugares em que se encontram os personagens.
Dentro do Realismo, todo o enredo e seus personagens são perfeitamente escolhidos e trabalhados, afinal cumprem dignamente seus papéis:
Basílio com toda sua sutileza de um verdadeiro don juan, que não se casara pois vivia com amantes e sempre citava Constatine a parisiense que deveria ter trazido para Brasil, um homem viajado pela europa e que desprezava tudo dos outros países, tudo de bom era Paris, não aceitava qualquer comentário, sempre completava que de Paris era melhor, Eça o descreve tão bem neste aspecto que há momentos que ele se torna esnobe, um chato, dá até vontade de mandá-lo de volta para Paris e seu ego;
Luisa com seus sonhos de quem não tem mais nada para fazer em uma rotina entediante, como bordar, tocar piano e ler seus folhetins e dar ordens às criadas, uma esposa que “pensava em escrever para o marido para matar o tempo, mas estava com preguiça”;
Conselheiro Acácio imponente, com seus títulos honoríficos, seus textos politizados e sociais, sua amante uma sigilosa criada;
Leopoldina uma mulher infeliz que não aceita a forma grosseira e não ciumenta de seu marido, que não se sabe se fôra sempre assim, ou se tornou após os inúmeros casos de adultério dela, ficava triste por sua condição tão falada, sendo que todas as damas da alta tinham seus amantes e não andavam na boca do povo;
D. Felicidade cinquenta anos, sentia uma paixão platônica por Acácio que não se realiza nunca e todo o romance há uma expectativa que ela consiga, no entanto em um capítulo em visita à casa de Acácia, nota-se dois travesseiros em sua cama e confirmação de que tinha uma misteriosa companhia.
Jorge o marido que nada deixa faltar a esposa, um homem sério e recatado, mas que em suas viagens é um adúltero de várias mulheres e várias cobiças. O autor tenta fazer de Jorge o exemplo vivo do adepto do Realismo, mas com poucos referenciais, poderia ter explorado mais o tema realismo através dele;
Joana uma segunda criada sempre na ausência dos amos, acena um pano branco ao marceneiro e logo, vem ele para horas gostosas de entrega.
Juliana a mais diferente de todos os personagens era sempre sozinha, e sempre seu desejo sempre estava em ser uma madame e ter seu canto.
Descrita com toda sorte de aparência feia, vivia com dor, vivia trabalhando e sonhando o impossível, o dia que seria uma madame. Uma ardilosa arma que mostra o social, que mostra injustiça, que mostra uma pessoa com um ódio e revolta justificados a tal ponto que não conseguimos sentir aversão pela personagem, ao contrário sentimos a grande injustiça e egoísmo do ser humano. O fato de Eça ter dado tanto valor a uma personagem raquítica e feia e doente mostra a seriedade com trata o realismo. Só lamento que naquela época nenhum criada pôde se deleitar com o que Juliana faz com a ama, pois não deveriam saber ler;
Ernestino Ledesma um amante do teatro e amigo de Sebastião, que descobre que Jorge mataria a esposa se ela o traísse;
Julião Zuzarte um cirurgião que só tem nome e nenhum bem, acha a profissão sem futuro, compara Luisa com Eugênia Grandt de Balzac, quando Sebastião lhe fala dos encontros com o primo;
Literatura como arma de combate, de reforma e ação social, eis o lema dos que abraçam o Realismo em seus romances.
BILIOGRAFIA: QUEIRÓS, J. M. E. O Primo Basílio. São Paulo: Klick, 1997